quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Sarnentinho

Não sei o histórico dele. Que idade ele tem, embora eu ache que ele seja um garotão, de onde veio, e etc.
Apareceu aqui na Madeireira onde tenho o gatil há mais ou menos cinco meses. No começo era bem arisco. Chegava, comia a ração dos moradores locais, e sumia. 
No dia seguinte, a mesma coisa.
E depois.
Eu ficava um bocado tensa por ele, já que não sabia pra onde ele ía, ou se ia voltar durante a noite e os cachorros de guarda iam vê-lo, ou andar na rua e acontecer o pior.
Aos poucos ele foi amansando e permitiu ser acariciado, pego no colo e o principal: pudemos ver o por quê daquelas orelhas tão feridas, que eu achei que era por briga. 
Nessas idas e vindas dele, um dia chegou com as orelhas lavadas de sangue. Levei-o ao veterinário assim e que pude,m e ele voltou assim:

Dr. Oarde limpou todo aquele sangue, tirou a casca seca e me disse que era sarna. Receitou o remédio que eu teria de dar a ele, e desde então ele mora aqui no gatil.
Passando o Triatox duas vezes por semana, ele reagiu bem ao tratamento. Sempre calmo na hora de passar o remédio, parecia entender que aquilo era para o próprio bem dele.


Dentro de dois meses, ele ficou bem, a sarna curou. 
Desde o principio, estava certo de que ele iria pra adoção, mas no 45 do segundo tempo, meu pai se apegou a ele e pediu para deixar ele por aqui, 'já que ele nem dá trabalho, né Mari?".
Ele ficou. Não tem nem nome, coitado. A gente só chama de Gato Branco, e ele parece muito agradecido, sempre se esfregando, retribuindo todo o cuidado que tivemos com ele, com muito amor


domingo, 17 de agosto de 2014

Instinto

Ela é difícil. Só eu sei o que já passei nas patas dessa gata. Apelidada pelo veterinário de Rabo Fino, por causa de uma
dermatite que fez os pelos do rabo dela ficarem bem ralos.
Sei bem pouco do histórico da Diná.
Chegou às minhas mãos como um favor: "fica com ela por algumas semanas, enquanto a reforma no centro de zoonoses não acaba." Ela veio com sete filhotes e sempre foi uma mãe maravilhosa, muito atenciosa, cuidadosa e excelente caçadora. 
As semanas foram passando e não vieram buscá-la.
Consegui novos lares pros pequenos, com exceção de um deles, que está comigo até hoje.
O temperamento da Rabo Fino é o pior possível. Totalmente aversa ao contato humano, não aceita carinho, não se aproxima, não permite contato algum, muito embora só queira dormir na cama de um dos meus irmãos. Aprendeu a ir sozinha pro gatil na hora de prender, e aposto que é pra evitar que qualquer um de nós tenha que pegá-la no colo pra isso. Até passar perto dela é complicado, já que ela sempre avança nos pés da gente. 
Sempre muito instintiva e de natureza ruim, como diz a minha mãe, só se envereda pro lado de um dos meus cachorros, o poodle Fred. Uma amiga diz que ela tem cara de sofrida, e eu acredito que Diná tenha mesmo sofrido por aí, nas ruas ou nas mãos de alguém que a maltratava.
Mas, como já disse, é uma mãe maravilhosa. Um coração imenso pros filhotes. 
Na segunda ninhada dela, já comigo, nasceram quatro bebês. Foi preciso uma cesariana e um deles morreu no parto. Enquanto no veterinário, me ligaram pra saber se eu podia cuidar de um gatinho que tinha sido rejeitado pela mãe. Disse que podíamos tentar, que tinha uma gata recém parida e talvez ela aceitasse.
Diná aceitou.
Dias depois, encontrei uma caixa com quatro gatinhos bem pequenos ainda, e Diná já em casa com as crianças, adotou esses quatro. E assim já amamentava oito filhotes, de tamanhos diferentes. 
Mais algumas semanas e apareceram mais dois filhotes. E depois mais CINCO.
Rabo Fino, na sua aversão humana, sempre teve um instinto materno aflorado. De uma só vez, se permitiu ter 15 filhos, que nem todos eram dela.
Tratou todos da mesma forma, com muito amor e sempre que saía pras suas voltinhas diárias, trazia uma caça de presente aos filhotes, já não tão filhotes mais.
Essa gata me deu uma lição. Que sorte eu tive por isso. Ela é um animal "irracional", age por instinto. "Não pensa".
Que bom, não é? Que ser humano, com faculdade mental em dia faria algum assim? Adotaria um único filho sequer, sem antes pensar muito?
Deixaria que o coração falasse, que agisse por instinto, por amor?
Graças a Deus Diná é só uma gata que não pensou nisso e salvou vidas, talvez sem chances se não fosse por ela.
Hoje ela é castrada, vive na minha casa, com todas as regalias que ela merece, como um prêmio pelos 15 filhotes de uma só vez. Na época ela emagreceu um bocado e os cuidados com ela foram triplicados, muita água e comida a vontade, mas hoje é gorda e parruda. Só se engraça pro Fred, na gente muito raramente, só se ela tiver de bom humor.
O rabo
fino, inquieto e desconfiado dela está sempre balançando. É amada pelos humanos da casa, dorme na cama e tem toda a paz de que precisa, pois o papel dela no mundo está cumprido.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Como tudo começou...

Há mais ou menos três anos eu queria um gatinho branco. Já tinha um preto, uma preta e branca e uma siamês em casa, mas nunca tinha tido um gato branco. Perto da minha casa tem um petshop com uns gatinhos pra adoção e na época eu vi de longe, quando passei na frente, que tinham uns gatinhos brancos e voltei pra pegar. Cheguei toda feliz, felicidade que não durou nem um segundo por conta da situação que encontrei. Numa gaiola imunda tinham oito gatinhos. Sim, OITO, e um deles estava morrendo, agoniando enquanto os outros avançavam na grade, desesperados por salvação, loucos pra sair daquele lugar nojento, quando me viram. Eram gatos filhotes, magros, mufinos, remelentos, tão novinhos que ainda deviam estar com a mãe, mamando e não ali servidos de ração misturada com água. Não contei conversa, chamei o dono do lugar e disse que queria cinco gatinhos, os mais fracos. Ele me deu uma caixa, ainda incrédulo que eu levaria todos eles. Disse a ele que aquilo era injusto, que deviam estar com a mãe, que estavam morrendo. Lembro bem da resposta dele: "Minha filha, eu não posso fazer nada. Já estão aqui por que as pessoas abandonam gatos aqui todos os dias. Não é minha culpa." Não respondi e fui embora. Uma moça trabalhava em casa e foi comigo, ela carregou a caixa enquanto eu levava o filhote que estava morrendo na mão. Bom, ele morreu antes que eu chegasse em casa, na palma das minhas mãos.
Minha mãe chegou em casa um pouco depois e quando viu aquele monte de gatos, pirou. Perguntou onde eu tinha arrumado, o que eu ia fazer com aquilo, disse que eu não ia ficar com eles, enfim, escutei um sermão. Mas mamãe é muito boa, viu que dois gatinhos estavam bem doentinhos e os levou no veterinário (nosso anjo, Dr. Oarde) na mesma hora. Esses dois que foram, não voltaram. Morreram lá.
De cinco sobraram dois, e eu ainda fiquei pensando nos outros três que ficaram pra trás e não resisti. Fui buscar. Fui mesmo.
Passei semanas cuidando da minha nova prole de perto. Levei-os ao veterinário para serem vermifugados, dei muito carinho, tratei bastante, alguns eu precisei dar mamadeira ainda e foi assim que minha sina felina comecou. Minha mãe me fez doar todos eles, e tentou me parar. Claro que em vão. 
Hoje estou mais organizada, tenho um pequeno gatil que ganhei do meu pai,  fica onde trabalhamos, e em casa tenho um lugarzinho pra guardar os mais doentes ou filhotes. Tenho um limite de resgates por vez, tenho pessoas que me ajudam na divulgação, amigos que ajudam com ração e assim vou levando. Aqui quero postar os casos mais interessantes, os mais trabalhosos, os que mais me tocam. Quero compartilhar com as pessoas esse pedaço do meu mundo, que é o que me move, e é aonde me sinto mais perto do céu, graças a essas criaturas que me enchem do mais puro amor e orgulho.