segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

2014

2014 foi um ano difícil, de modo geral. Várias tragédias, catástrofes naturais, o Brasil perdeu a Copa... Brincadeiras a parte.
Não sei quantos animais chegaram até mim durante o ano. Alguns foram adotados, outros, infelizmente, não sobreviveram, uma gatinha, em especial, achou que minha casa não era legal pra ela e se mudou para a casa da vizinha, é mole?!
Me perguntaram qual foi o resgate do ano, e eu ainda não tinha parado pra pensar nisso. Puxei na memória, olhei em volta e não há sombra de dúvidas. 
Maria, a cachorrinha que resgatei há menos de três meses, hoje é um dos meus melhores resgates. Pra saber a história dela e as condições em que eu a encontrei junto com uma outra cachorrinha, é só ler as últimas postagens do blog.
Bom, a foto fala sozinha. Maria é vitoriosa, é esperta, sapeca, danada, brincalhona, muito muito muito carinhosa, um amor de animal.
Que 2015 traga consciência às pessoas sobre maltrato e abandono animal e muito amor nos corações.



sexta-feira, 17 de outubro de 2014

A última da série Didi e Maria

Sim, a última postagem sobre as duas senhoras. 
Durante três dias, Didi passou sob minha severa observação. Sabia que havia algo errado. E havia. A fraqueza excessiva fez com que perdesse os movimentos das patas traseiras, e de acordo com o Dr. Oarde, a idade avançada ajudou no processo.
Não vejo qualidade de vida para uma cachorra idosa, fragilizada como Didi estava, que não ande.
Dr. Oarde e nós decidimos que ela teria uma morte digna, sem mais sofrimento. O que ela teve durante a vida foi o suficiente. Foi eutanasiada. Partiu pro céu dos totós, dormindo.
Gosto de imaginar que ela chegou lá correndo, peluda, todos os dentinhos afiadinhos, boazinha.
Não que eu acredite nisso, mas se você imaginar com um pouco de carinho, é uma cena bonita.
Sobre Maria, vai que é uma beleza. Sente falta da Didi, é perceptível, mas de resto vai muito bem.
A pele dela está com um aspecto bem diferente de quando ela chegou. Não está tão seca, não tem mais tantas feridas, e as que tem, estão sarando rapidamente. A sarna diminuiu consideravelmente, tem se alimentado bem, e já nos reconhece quando nos vê. Fica toda feliz, abanando o rabo de rato dela, como diz meu irmão caçula, Rodrigo.
Rodrigo é um menino puro. Sentiu um remorso tremendo pela ida de Didi, e tem se dedicado muito aos cuidados da Maria. Ele quem deu o primeiro banho nela.
É engraçado ver como ele não tem receio, ou nojo de se abraçar às cadelas, mesmo sabendo que estão doentes e cheias de sarna. No caminho do veterinário, foi com Didi no colo. Aqui, qualquer coisa é motivo para levar Maria nos braços.


Dar banho na Maria é um pouco complicado, por que ela não é acostumada e por que ela sente muito frio, devido à falta de pêlos. Mas até isso está melhorando. Logo mais, volto com postagem nova.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Da série: Didi e Maria

No último fim de semana Didi foi ao veterinário. Suspeitei de uma pata quebrada e não quis esperar pra ter certeza. Levei ao meu veterinário de confiança, Dr. Oarde da Cia do Cão, que a examinou. O carinho no olhar desse homem, a forma como ele lida com animal que chega à clínica, ganhou meu coração.
Vamos ao diagnóstico das meninas. Clinicamente falando, estão bem. Sim, bem. Não aparentam nenhuma doença ou infecção, o grande problema é mesmo a sarna e a fraqueza delas. E Didi não está com a pata quebrada, é só a fraqueza que a impede de andar normalmente.
O Dr. recomendou que as alimentasse bastante, muita água e que só isso já as faria melhorar consideravelmente, até a sarna, a dermatite vai melhorar só com alimentação e a administração de complexo B. Também precisamos banhá-las uma vez por semana, para livrá-las da pele morta, para as feridas sararem.
Descobrimos na clínica que nenhuma das duas têm dentes, o que fortalece minha teoria de que as duas foram abandonadas juntas por estarem velhas, e a rua fez o que fez com elas. Por não terem dentes, agora preciso dar ração amolecida em água para que elas consigam comer.
Eu acreditava que levaria cerca de seis meses para a recuperação das senhoras, mas o dr. Oarde deu apenas três meses pra isso.
Didi ainda está bastante fraca e passa a maior parte do tempo deitada, mas Maria está muito bem. Fica em pé, anda pela casinha, e sempre que me vê, abana o rabo. É uma grande conquista.




quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Didi e Maria

Os últimos dias têm sido de chuva aqui em Rio Branco. Com direito a tempestade elétrica e tudo. 
Ontem, logo após o almoço, caía uma chuva fina, daquelas de molhar bobo. Eu estava lavando a louça do almoço quando minha mãe me chamou "rápido, corre aqui". Fui ligeiro, com as mãos cheias de espuma, seguindo-a em direção à chuva. 
Embaixo de um carro estacionado, minha mãe apontou uma das coisas mais tristes que eu já presenciei. Na verdade, eram duas.
O maltrato humano é absurdo. O coração das pessoas está esfriando, e cada vez mais duro. 
Didi e Maria são a prova. A forma como olham pra gente, o medo que sentem e tremem cada vez que nos aproximamos, só mostra o quanto sofreram. A magreza, a fome, a sede, a desidratação, a pele ferida, a sarna, os pelos que caíram, o sangue que pinga de uma ferida, os olhos remelentos. As cadelas viveram o inferno na terra. Acredito que tenham sido abandonadas juntas, são muito unidas, estão sempre andando em par, e são bem parecidinhas.
Quando as vi, soube que não poderia deixar que ficassem embaixo de um carro até que a chuva passasse, e depois fossem embora. Sabia que precisava cuidar delas. São duas exceções à minha regra felina.
A primeira coisa feita foi alimentar. Com certeza não comiam há dias.
Fiquei por perto, esperando que terminassem para que eu pudesse trazê-las para dentro.
Didi foi a primeira. Mesmo sendo medrosa, meio receosa, foi a mais simpática. Se aproximou aos poucos, abanava o rabinho. Queria vir, mas tinha medo. Viu ausência de perigo e se permitiu vir até nós. Coloquei-a na casinha. Dei água e ração a vontade.
Pedi ajuda para um amigo, já que a madrasta dele é estudante de veterinária. Queria orientações, dicas e qualquer coisa que ajudasse. Ele quem a batizou de Didi. Mas por que Didi? "Acho que são esse pelos loiros que sobraram, parece a Didi, irmã do Dexter". Marcos é o padrinho dela agora.
Maria sumiu, correu, fugiu da gente. Arredia, foi embora. Mas voltou, e foi embora, e voltou e foi e voltou e foi. Durante o dia, ela passava aqui em frente várias vezes, acho que procurava por Didi, sua companheira. Fiquei triste, pois não consegui pegá-la para cuidar, também.
A noite caiu, Didi estava segura, e Maria, que nem era Maria, finalmente cedeu e veio para o lado branco da força.
Lucas, meu irmão, disse que ela devia se chamar Maria, por que "toda Maria sofre, batalha, é guerreira, essas coisas, Mari. Esse é o nome perfeito pra ela".
As duas mocinhas, foram medicadas, estão seguras, protegidas da chuva, da rua, do nojo e raiva das pessoas. Não vão mais passar fome, nem sede. Do passado delas, eu não faço a minima idéia, só me interessa o futuro, depois de tratadas, o bom lar que quero conseguir pra elas.
Sei que o tratamento vai ser longo, e elas estão bem debilitadas, mas acredito que o pior já passou, de hoje em diante é só amor.
Aqui está uma foto do primeiro dia delas sob nossos cuidados, e com o passar do tempo, vou postando fotos sobre como estão.


Não é bonito de se ver, eu sei. Espero poder postar fotos maravilhosas dessas duas. 
Didi é quem está olhando pra câmera e Maria é a outra.
A série Didi e Maria está só começando.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Tigras

Numa das vezes que saímos e o levamos junto.
O Tigrão é um caso sério. Ou foi. Depende muito do ponto de vista. De todos os gatos que eu tive, é o mais inconsequente. Mas inconsequente no sentido da falta de simancol mesmo. Sobe no colo de todas, t o d a s, t-o-d-a-s as pessoas que chegam, e ele não se importa se o indivíduo gosta de gato ou não. Ele simplesmente surpreende no pulo. Não consegue ver ninguém escrevendo sem que suba na mesa e lhe tome a caneta das mãos e faça dela um novo brinquedo. Uma mão balançando aleatoriamente, gesticulando, ou até mesmo movimentos que você julgue imperceptíveis, Tigão está lá, a espreita. 
Observando. 
Preparando um bote violento. 
Violento de amor. 
Violento de gratidão. 
A mão que ele ataca é alvejada por lambidas e pequenas mordidas carinhosas, seguidas de leves cabeçadas. 
Se o seu gato costuma dar cabeçadas em você, sinta-se um felizardo. Significa que você é a família dele. 
 Esse moço chegou numa caixa cheia de lama. Meu pai encontrou na rua. Junto com ele, haviam mais três irmãzinhas. O desamor de quem as jogou fora, fraturou a coluna de uma delas, que precisou ser eutanasiada. Ficaram três: Tigrão, que nem se chamava Tigrão, e duas meninas. Muito filhotes, foram para minha casa e passaram a ser alimentados na mamadeira. Lola adotou os três, mas não tinha leite para eles. 
O leite materno, assim como para os humanos, é essencial para os filhotes. Gatos bebês são absurdamente melindrosos, embora muito resistentes. Nas semanas que vieram, os três enfraqueceram, contraíram infecção intestinal e com apenas 40 dias de vida precisaram de uma injeção de antibióticos.
As horas seguintes ao remédio foram doloridas, para mim e para os três felinos. A reação do antibiótico junto a fraqueza deles, fez com que parassem de andar por horas. Dois deles normalizaram.
Uma morreu.
Achei que seguiria normalmente e que os outros dois seriam salvos.
Na manhã seguinte, só havia o Tigrão. A segunda irmãzinha morreu também.
Tigão estava absurdamente fraco, e resolveu não tomaria mais o leite na mamadeira. Nem no pires. Nem comeria ração molhada com leite. Nem papinha de gato. Nem os petiscos enlatados. Nem nada. Não comeria coisa alguma.
Pensei "Agora esse vai também. Sem comer, não dou uma semana pra ele". 
Foram sete dias cravados, contados sem comer.. Tigrão fez greve de fome, fez birra. Não comeu. E não morreu. E eu sempre insistindo para que ele comesse alguma coisa, em vão.
O bonito resolveu que beberia leite em pó. APENAS LEITE EM PÓ. A barbicha dele vivia cheia de leite seco, e pó no fucinho. Bebia leite o dia todo, o que resultou numa pança gigantesca.
Eu não saía a noite, para que ele não ficasse sozinho. Ia em lugares que pudesse levá-lo, junto com a mistura de leite em pó.
Tive um cuidado absurdo com ele. Embora tivesse esperança de que ele ficaria bem, sempre achava que ele não passaria da noite, tamanha era sua magreza.
Muito cedo para um gatinho comer carne, ainda mais nas condições de saúde dele, resolvi arriscar. Comeu que era uma beleza. 
Criei um gato no leite em pó e carne cozida. Por isso o nome de Tigrão.
Quem sabe da história dele, diz que ele é muito é esperto.
Eu digo resistente. Brinco que Tigrão só tem meia vida disponível para uso. Outro dia, despencou de uma altura de 2 metros e desmaiou. Entrei em pânico, e em questão de um minuto ou dois ele se levantou, desnorteado, e foi pro prato de ração. "Mas tá é bem esse gato".
Hoje é absurdamente carinhoso. Não mede esforços para demonstrar sua gratidão. E faz isso com todo mundo.
Acomodado, confia plenamente no nosso colo. Não importa como o seguramos, ele sabe que não o deixaremos cair, nem que se machuque.
Hoje é lindo, gordo, parrudo, um príncipe, como diz uma amiga. Dono de olhos azuis belíssimos.







Assim como o ex-sarnento do post anterior, Tigrão é a prova viva de que amor e cuidado salvam vidas, e elas sabem retribuir lindamente.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Lola, la la la la lola


Essa semana, um dos meus resgatinhos morreu. Foi-se. Deixou a Lola, mãe adotiva dele, e a mim aqui, olhando pro rosto da tristeza.
Lola é uma gata linda, de pelos finos e compridos.

Dona de pelos que fazem minha rinite ficar tinindo. Branca e preta, mais branca que preta, sempre brincamos em casa chamado-a de "zoiuda", por conta dos grandes olhos verdes, que vivem arregalados, atentos a cada detalhe da casa, cada movimentação dos humanos, dos outros gatos, ou dos cachorros. Isso por que é ela quem manda aqui. A dona do território. Na minha casa, os machos não tem vez e assim que atingem a idade, são castrados.
Lola veio de longe. Foi adotada em um canil municipal em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Minha cidade natal também. Viajou três dias cansativos de carro, junto com outra filhote também adotada lá, comigo, meus irmãos e pais. O caminho até o Acre foi longo. A noite, entrávamos escondidos nos hotéis onde não eram aceitos animais, com as pequenas. Durante o dia, parávamos várias vezes pra alimentá-las e deixar que andassem na terra pra fazer suas necessidades.
Chegamos aqui, e foram direto para o veterinário: a alimentação falha rendeu uma infecção intestinal, e o ar-condicionado do carro resultou em pneumonia.

Vinte dias internadas e entre mortos e feridos, salvaram-se todos e as meninas puderam vir pra casa. Cresceram saudáveis, bonitas e unidas.
Mas Lola é a protagonista dessa história.
Só teve uma ninhada biológica. Excelente mãe, mas muito teimosa. Na hora de parir, só queria se fosse na cama de um dos meus irmãos. Não diga que não tentei levá-la para outro lugar. Fiz tudo o que pude, até resultar numa fatalidade. Ela pulou a janela, na tentativa de voltar para o quarto, enquanto um dos gatinhos nascia. O primogênito bateu a cabeça e precisou ser eutanasiado dias depois, pois não acompanhou o crescimento dos irmãos e estava definhando. 
Sobraram quatro filhotes. Fiquei só com um deles, os outros, eu dei pra servir de alegria em outros lares.
Sempre que chega algum filhote novo em casa, Lola estranha. Se aproxima bem aos poucos, e quando vemos, ela já está carregando o bebê para cima e para baixo, dando miados longos e desesperados na tentativa de atrair "sua cria" para perto de si.
E foi o que aconteceu nas últimas semanas. Eram em cinco pequenos, de três ninhadas diferentes, que eu não sei de onde vieram, apenas vieram. Dois foram adotados, um menorzinho não resistiu a falta da mãe biológica e ficaram dois. A Diana e um machinho, peludo de olhos azuis feito o céu num dia limpo, que eu ainda não tinha escolhido nome. 
A bonita se apegou aos dois com afinco. Com amor. Com desespero. Ora, só faltou tê-los parido, já que até leite materno ela produziu para dar às crianças. Muito protetora e ciumenta, Lola vive em brigas desnecessárias por não permitir nenhuma aproximação dos outros gatos ou cachorros, que findou numa confusão bastante feia com o poodle da casa. Lola perdeu a briga e passou três dias internada na clínica veterinária.
Diana e o machinho de olhos cor do céu, ficaram sem a mamãe e eu percebi a mudança repentina no comportamento no mocinho. Todo o tempo cabisbaixo, emagreceu muito e de repente, e mal tinha forças para miar. Aposto da saudade da mamãe.
A gata voltou para casa num sábado de manhã, e os filhotes estavam eufóricos com a presença dela de novo, e ela com a dele, sempre chamando-os aonde ia.Mais tarde, Diana, uma pretinha e branca, com três meses de idade e uma pinta no canto da boca no maior estilo Marilyn Monroe, dormiu no meu colo, e Lola sumiu com o machinho. Pouco tempo depois, só ouvi a miadeira desesperada da Lola, entrando e saindo do quarto, vindo em mim e voltando. "O que foi, mozão? Diana tá aqui" e coloquei a princesa no chão, mas a mãe não se aquietou e voltou pro quarto.
A segui e ela entrou embaixo da cama. Me abaixei para olhar e lá estava um corpinho magro, gélido, imóvel. Lola sabia que seu filhote tinha ido e veio me chamar. 
Ela sabia que não era comum, e se refugiou em mim, me pediu ajuda.
Acho, sinceramente, que o gatinho morreu de saudades. De falta da Lola. Do amor dela. Das lambidas incessantes para limpá-lo. Do miado descontrolado chamando-o. E parece que ele só esperou que ela chegasse para olhar para ela mais uma vez, por que não conseguiria retornar de sua fraqueza. 
Peguei o gatinho, para enterrar. Não jogo no lixo ou qualquer outro lugar. Eu sempre enterro todos eles. 
Quando Lola começa a miar pela casa, alguém sempre se mobiliza a ir colocar a Diana perto dela. Não quero que a minha Lola sinta a tristeza, a falta do menorzinho. Lola é uma gata especial, cheia de amor. 
Seu nome me veio como uma epifania, enquanto ouvia The Kinks e well, that's the way that I want it to stay, and I always want it to be that way for my Lola.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Sarnentinho

Não sei o histórico dele. Que idade ele tem, embora eu ache que ele seja um garotão, de onde veio, e etc.
Apareceu aqui na Madeireira onde tenho o gatil há mais ou menos cinco meses. No começo era bem arisco. Chegava, comia a ração dos moradores locais, e sumia. 
No dia seguinte, a mesma coisa.
E depois.
Eu ficava um bocado tensa por ele, já que não sabia pra onde ele ía, ou se ia voltar durante a noite e os cachorros de guarda iam vê-lo, ou andar na rua e acontecer o pior.
Aos poucos ele foi amansando e permitiu ser acariciado, pego no colo e o principal: pudemos ver o por quê daquelas orelhas tão feridas, que eu achei que era por briga. 
Nessas idas e vindas dele, um dia chegou com as orelhas lavadas de sangue. Levei-o ao veterinário assim e que pude,m e ele voltou assim:

Dr. Oarde limpou todo aquele sangue, tirou a casca seca e me disse que era sarna. Receitou o remédio que eu teria de dar a ele, e desde então ele mora aqui no gatil.
Passando o Triatox duas vezes por semana, ele reagiu bem ao tratamento. Sempre calmo na hora de passar o remédio, parecia entender que aquilo era para o próprio bem dele.


Dentro de dois meses, ele ficou bem, a sarna curou. 
Desde o principio, estava certo de que ele iria pra adoção, mas no 45 do segundo tempo, meu pai se apegou a ele e pediu para deixar ele por aqui, 'já que ele nem dá trabalho, né Mari?".
Ele ficou. Não tem nem nome, coitado. A gente só chama de Gato Branco, e ele parece muito agradecido, sempre se esfregando, retribuindo todo o cuidado que tivemos com ele, com muito amor


domingo, 17 de agosto de 2014

Instinto

Ela é difícil. Só eu sei o que já passei nas patas dessa gata. Apelidada pelo veterinário de Rabo Fino, por causa de uma
dermatite que fez os pelos do rabo dela ficarem bem ralos.
Sei bem pouco do histórico da Diná.
Chegou às minhas mãos como um favor: "fica com ela por algumas semanas, enquanto a reforma no centro de zoonoses não acaba." Ela veio com sete filhotes e sempre foi uma mãe maravilhosa, muito atenciosa, cuidadosa e excelente caçadora. 
As semanas foram passando e não vieram buscá-la.
Consegui novos lares pros pequenos, com exceção de um deles, que está comigo até hoje.
O temperamento da Rabo Fino é o pior possível. Totalmente aversa ao contato humano, não aceita carinho, não se aproxima, não permite contato algum, muito embora só queira dormir na cama de um dos meus irmãos. Aprendeu a ir sozinha pro gatil na hora de prender, e aposto que é pra evitar que qualquer um de nós tenha que pegá-la no colo pra isso. Até passar perto dela é complicado, já que ela sempre avança nos pés da gente. 
Sempre muito instintiva e de natureza ruim, como diz a minha mãe, só se envereda pro lado de um dos meus cachorros, o poodle Fred. Uma amiga diz que ela tem cara de sofrida, e eu acredito que Diná tenha mesmo sofrido por aí, nas ruas ou nas mãos de alguém que a maltratava.
Mas, como já disse, é uma mãe maravilhosa. Um coração imenso pros filhotes. 
Na segunda ninhada dela, já comigo, nasceram quatro bebês. Foi preciso uma cesariana e um deles morreu no parto. Enquanto no veterinário, me ligaram pra saber se eu podia cuidar de um gatinho que tinha sido rejeitado pela mãe. Disse que podíamos tentar, que tinha uma gata recém parida e talvez ela aceitasse.
Diná aceitou.
Dias depois, encontrei uma caixa com quatro gatinhos bem pequenos ainda, e Diná já em casa com as crianças, adotou esses quatro. E assim já amamentava oito filhotes, de tamanhos diferentes. 
Mais algumas semanas e apareceram mais dois filhotes. E depois mais CINCO.
Rabo Fino, na sua aversão humana, sempre teve um instinto materno aflorado. De uma só vez, se permitiu ter 15 filhos, que nem todos eram dela.
Tratou todos da mesma forma, com muito amor e sempre que saía pras suas voltinhas diárias, trazia uma caça de presente aos filhotes, já não tão filhotes mais.
Essa gata me deu uma lição. Que sorte eu tive por isso. Ela é um animal "irracional", age por instinto. "Não pensa".
Que bom, não é? Que ser humano, com faculdade mental em dia faria algum assim? Adotaria um único filho sequer, sem antes pensar muito?
Deixaria que o coração falasse, que agisse por instinto, por amor?
Graças a Deus Diná é só uma gata que não pensou nisso e salvou vidas, talvez sem chances se não fosse por ela.
Hoje ela é castrada, vive na minha casa, com todas as regalias que ela merece, como um prêmio pelos 15 filhotes de uma só vez. Na época ela emagreceu um bocado e os cuidados com ela foram triplicados, muita água e comida a vontade, mas hoje é gorda e parruda. Só se engraça pro Fred, na gente muito raramente, só se ela tiver de bom humor.
O rabo
fino, inquieto e desconfiado dela está sempre balançando. É amada pelos humanos da casa, dorme na cama e tem toda a paz de que precisa, pois o papel dela no mundo está cumprido.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Como tudo começou...

Há mais ou menos três anos eu queria um gatinho branco. Já tinha um preto, uma preta e branca e uma siamês em casa, mas nunca tinha tido um gato branco. Perto da minha casa tem um petshop com uns gatinhos pra adoção e na época eu vi de longe, quando passei na frente, que tinham uns gatinhos brancos e voltei pra pegar. Cheguei toda feliz, felicidade que não durou nem um segundo por conta da situação que encontrei. Numa gaiola imunda tinham oito gatinhos. Sim, OITO, e um deles estava morrendo, agoniando enquanto os outros avançavam na grade, desesperados por salvação, loucos pra sair daquele lugar nojento, quando me viram. Eram gatos filhotes, magros, mufinos, remelentos, tão novinhos que ainda deviam estar com a mãe, mamando e não ali servidos de ração misturada com água. Não contei conversa, chamei o dono do lugar e disse que queria cinco gatinhos, os mais fracos. Ele me deu uma caixa, ainda incrédulo que eu levaria todos eles. Disse a ele que aquilo era injusto, que deviam estar com a mãe, que estavam morrendo. Lembro bem da resposta dele: "Minha filha, eu não posso fazer nada. Já estão aqui por que as pessoas abandonam gatos aqui todos os dias. Não é minha culpa." Não respondi e fui embora. Uma moça trabalhava em casa e foi comigo, ela carregou a caixa enquanto eu levava o filhote que estava morrendo na mão. Bom, ele morreu antes que eu chegasse em casa, na palma das minhas mãos.
Minha mãe chegou em casa um pouco depois e quando viu aquele monte de gatos, pirou. Perguntou onde eu tinha arrumado, o que eu ia fazer com aquilo, disse que eu não ia ficar com eles, enfim, escutei um sermão. Mas mamãe é muito boa, viu que dois gatinhos estavam bem doentinhos e os levou no veterinário (nosso anjo, Dr. Oarde) na mesma hora. Esses dois que foram, não voltaram. Morreram lá.
De cinco sobraram dois, e eu ainda fiquei pensando nos outros três que ficaram pra trás e não resisti. Fui buscar. Fui mesmo.
Passei semanas cuidando da minha nova prole de perto. Levei-os ao veterinário para serem vermifugados, dei muito carinho, tratei bastante, alguns eu precisei dar mamadeira ainda e foi assim que minha sina felina comecou. Minha mãe me fez doar todos eles, e tentou me parar. Claro que em vão. 
Hoje estou mais organizada, tenho um pequeno gatil que ganhei do meu pai,  fica onde trabalhamos, e em casa tenho um lugarzinho pra guardar os mais doentes ou filhotes. Tenho um limite de resgates por vez, tenho pessoas que me ajudam na divulgação, amigos que ajudam com ração e assim vou levando. Aqui quero postar os casos mais interessantes, os mais trabalhosos, os que mais me tocam. Quero compartilhar com as pessoas esse pedaço do meu mundo, que é o que me move, e é aonde me sinto mais perto do céu, graças a essas criaturas que me enchem do mais puro amor e orgulho.